domingo, 23 de agosto de 2009

Despedida


"- Hm, Davi! Já são 13h, você vai perder seu vôo!
Meus olhos se encheram de lágrimas. Senti minhas pernas tremerem e meu coração disparar, batendo duas vezes mais rápido que o normal. Não sabia se conseguiria me conter na frente de Davi. Vê-lo partir, sem saber quando voltaria a vê-lo. Saber que ele não seria mais meu, que não poderia mais pensar nele do jeito que pensava, que não poderia mais amá-lo do jeito que eu amava. Não seria saudável que ele visse minha fraqueza, seria melhor se ele pensasse que eu não o amava mais como uma mulher ama um homem. Eu me recompus, respirei fundo três vezes, sem deixar que ele percebesse, enquanto andávamos para a fila de embarque.
- Ei, vou sentir sua falta! Quero que me ligue às vezes, se estiver com problemas, ou se quiser contar as novidades, ok?! – Eu sussurrei enquanto o abraçava. Inalei seu cheiro o máximo que pude. Eu o guardaria em algum canto da minha memória, onde ficasse intacto e protegido.
- Ainda somos amigos, certo? – Ele questionou ao me abraçar ainda mais apertado. Eu guardaria esse abraço também. Queria me lembrar de todos os momentos bons que passei ao lado dele.
- Claro que sim, sempre seremos! – Eu beijei sua bochecha e me afastei, olhando para o painel. – Acho que é o seu vôo que estão chamando. Cuide-se, ta legal? Quero que você se alimente bem e durma direito, faça amigos, ok?! E seja muito feliz, eu sempre vou torcer por você! – Eu estava segurando as mãos dele e as balançando de um lado para o outro, como se estivéssemos no jardim de infância.
Ele riu ao perceber o meu gesto. – Eu vou tentar, Mels! Eu prometo, meu amor! Cuida do George e de você, ok?! – Minha concentração foi quebrada quando a locutora do aeroporto chamou pela última vez o vôo com destino a Jacksonville, onde David desembarcaria. É claro que Folkston não tinha nenhum aeroporto, mas ficava a cerca de 45 Ml do aeroporto de Jacksonville.
- Ta na minha hora! Eu te amo, Mels! – Ele beijou minha testa e se afastou de mim, lentamente, arrastando sua mala, andando de costas para o portão de embarque.
- Eu te amo, Davi! Boa sorte! – Minha voz saiu como um sopro, sem força, e rápido demais pra que ele ouvisse, mas ele pareceu entender nos meus lábios.
Quando ele desapareceu entre os outros passageiros, eu decidi que era seguro desmoronar. As lágrimas lavaram meu rosto, como se alguém tivesse morrido, e não apenas partido. Era isso que eu sentia, eu havia morrido. Uma parte de mim, do meu coração, estava sendo enterrada naquele momento, e era isso que eu queria, isso era o certo a acontecer.
Eu demorei alguns minutos para me levantar do chão do banheiro do aeroporto e ir até o meu carro, que estava no estacionamento. Muitas pessoas devem ter me olhado, minha cara certamente era de luto. Mas eu não percebi, não lembro como cheguei até em casa. Não sou capaz de dizer em que momento consegui dormir. E também não consigo descrever a dor que tomou meu corpo e minha alma até que eu adormecesse."

Por Michele Penteado. (trecho de Catty Girl - the outset)
© direitos reservados a autora

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