segunda-feira, 28 de setembro de 2009


Assim como a presa não acredita nos perigos de seu predador, eu também não conseguia acreditar nas palavras que saíam da sua boca. Elas soavam fortes demais, decididas, definitivas. E eu estava cheia delas na minha mente. Não havia pra onde fugir. Por mais que meus ouvidos estivessem cobertos, mesmo que meus olhos estivessem pressionados, minha cabeça ainda doía com seus insultos.
Por alguns segundos, porém, era mais fácil lembrar de como seus olhos brilhavam com os meus, da sincronia dos nossos lábios esfomeados um contra o outro. Mas, assim que meus olhos estavam abertos novamente, você estava à minha frente, suas mãos agrediam o ar, seus lábios moviam-se demasiado rápido, mas seus olhos... Eles ainda tinham o mesmo brilho de antes. Eu sabia que, em algum lugar nos seus sentimentos, ainda existia o nosso amor. Agora, entretanto, eu não apreciaria esta parte de você, e eu também não tinha certeza de que eu, algum dia, faria isso. No entanto, eu ainda poderia aguardar por mais algum tempo. O amor me faria esperar.

Por Michele Penteado.
© direitos reservados a autora

domingo, 20 de setembro de 2009

Trechos finais Catty Girl


"Eu nem ao menos sabia se era certo o que eu fazia. Eu estava indo contra todos os meus princípios agora. Eu havia mentido para o meu pai, eu estava colocando a minha vida em risco e – o pior de tudo – eu não estava nada afetada com isso. Talvez nem existisse mais um coração no meu peito. Era como se alguém tivesse tomado todo o ar que restara para que eu respirasse. Então eu lutava desesperadamente para que o devolvessem a mim. Eu já havia esperado tempo demais.

A vingança e o ódio que corriam pelo o meu peito não me deixavam esperar nem por mais um segundo. Eu não teria medo dessa vez. Eu estava forte o suficiente para acabar com quantos fossem os homens que estivessem naquela cabana. Não importando quais armas eles usassem, ou quão assustadores eles estivessem.

O vento beijava as maçãs do meu rosto. Levianamente cobrindo meus olhos com os meus cabelos emaranhados. E eu pude sentir a lâmina afiada da faca que estava em minhas mãos. A velha Bowie de meu pai ainda seria útil para alguma coisa, afinal. Respirei fundo, e deliberadamente dei um passo em direção ao que separaria a doce Mel da felina que ameaçava me possuir a partir daquele momento."


Trecho de Catty Girl - the outset.
Por Michele Penteado.
© direitos reservados a autora

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sarah VI


Todos continuavam a correr desesperados. Vozes misturavam-se no ar e perdiam o sentido. Meu pai continuava ao meu lado, com a mesma decisão de que não iria embora sem mim.
- Você não tem apenas a mim, pai. Há outros que precisam de você. Eu sei o que quero. Seria infeliz se fugisse com vocês. Estaria enganando a mim mesma. - Continuei a fitar as árvores e a escuridão à nossa frente. Meus braços estavam recostados na sacada do grande palácio em que os anjos se abrigavam. Não havia mais esperanças, não para mim.
- Se esta é sua decisão. Eu sinto por não poder fazer nada. - Tocou meu ombro. Eu apenas assenti com a cabeça, assegurando-o de que poderia partir. Tudo ficaria bem. Recebi um beijo seu na testa e senti sua partida. Eu sabia que havia feito a escolha certa, independente do que acontecesse.
Um homem alto e forte, com a pele branca como a neve, saiu de trás das árvores. O sol já havia se posto; só havia escuridão, por onde quer que eu olhasse. O homem correu em minha direção. Montado em um cavalo negro, com uma faca em uma das mãos.
Minha reação não poderia ser diferente. Senti medo, senti-me acuada. Abaixei-me atrás da sacada onde estava, mas sabia que o homem já havia me visto.
Ouviu-se um uivo estrondoso no floresta. Um arrepio percorreu meu corpo. E de repente, fez-se silêncio. Levantei a cabeça cuidadosamente, observando por cima da pedra fria da sacada. O homem no cavalo negro estava voltado para floresta, como se esperasse a chegada de alguém.
Seu objetivo não era destruir minha espécie? O que fazia parado que ainda não atacara? O que o impedia? Ainda havia alguns anjos vagando pelo palácio, procurando por outros perdidos, tentando salvá-los. Não fazia sentido.
Era ele. Saiu de trás das árvores, montado em outro cavalo negro. Ele estava diferente, outra vez. Sua pele não era tão pálida quanto antes, era quase corada, em comparação ao outro homem.
Fenriz também carregava uma espada em suas mãos, e a apontava para o outro homem. Com um uivo alto e forte, ele correu em direção ao homem. A espada pontiaguda, apontada em sua direção, pronta para entrar-lhe no peito. O homem, porém, já estava preparado. A luta começara. Ruídos de espadas e gemidos era o que se podia ouvir em meio aquela batalha. Eu nada entendia. Apenas zelava pela vida de Fenriz. Não seria justo que ele partisse.
O homem o atingiu no rosto. Fenriz estava caído na grama, sobre as folhas.
- Não! Fenriz. - Eu gritei, sem pensar nas consequências.
O homem virou-se em minha direção. Encarando-me com seus olhos negros e profundos. Com um olhar desconhecido, ele seguia até mim, já sem seu cavalo, caminhando sem pressa. Um sorriso brincava em seu rosto.
Enquanto isso, Fenriz levantava sorrateiramente e dirigia-se em direção a seu cavalo, com a faca nas mãos. Meu olhar amedrontado ainda não saía do outro homem, que estava agora a alguns passos de mim.
O homem parou. Com as mãos em seu ventre, sentiu o sangue escorrer pelos dedos. E, em poucos segundos, sua cabeça não pertencia mais a seu corpo.
Fenriz continuou com o cavalo em minha direção, e parou em baixo da sacada.
- Venha comigo, virão outros atrás de vocês. - Ele ofereceu-me a mão. Queria que eu pulasse no cavalo com ele.
Oscilei, decidindo se era o certo a fazer. Afinal, eu não o conhecia, apesar de meu coração afirmar o contrário. Meu coração pertencia a ele, como se sempre o esperasse.
- Confie em mim. Eu não machucaria você.
Foi o bastante para que eu colasse meu corpo ao seu. E saíssemos com o cabelo ao vento pela floresta.
- O que está acontecendo? Por que você o matou? Ele não é um -
- Eu não sou um deles. Eu não pertenço a este mundo, Sarah! - Ele me interrompeu. Surpreendendo-me por saber meu nome.
- Como você sabe meu nome? Eu não lembro... Não, eu não o disse a você. E espere, você não é um deles? - Milhões de perguntas rodeavam minha cabeça. Precisaria organizá-las para entender o que acontecia.
- Todos sabem seu nome. Sua mãe sofreu na mão de meu pai, você deve lembrar disso.
- Seu pai? Loki? E-eu não... - As palavras que saíam de minha boca não faziam sentido algum.
- Pensei que soubesse. Teremos tempo para conversar. Eu não sou um deles. Nós podemos escolher que caminho seguiremos, mas há apenas uma coisa que pode nos mudar para sempre.
- É por isso que seus olhos estão azuis e... Sua pele não parece tão branca quanto era antes. - Toquei seu braço descoberto. Apreciando a textura de sua pele.
- Você me salvou desse destino. Meu pai queria matá-la. Eles não aceitam que um de nós não queira seguir seu destino.
- Aquele era Loki? Você matou -
- Não, não. - Ele interrompeu. - Era apenas um de seus guerreiros. Mas meu pai virá atrás de nós. Não acredito, porém, que nos encontrará. Eu sou como era antes, ele não conseguirá me encontrar nessa nossa forma.
- Para onde estamos indo? - Questionei, Abraçando mais forte seu peito, quando a velocidade aumentou.
- Ainda não sei. Não se preocupe, estará salva comigo - Ele segurou uma de minhas mãos e a beijou delicadamente. - Você não sabe por quanto tempo esperei por você.
Não importava para onde iríamos. Eu estava ao seu lado, repousando na floresta, esperando que o novo dia chegasse para continuarmos nosso caminho. E eu estava a salvo, meu coração estava a salvo, e, pela primeira vez, preenchido.

Por Michele Penteado.
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domingo, 13 de setembro de 2009

Sarah V


Os dias passaram devagar. Era como se faltasse um pedaço de mim mesma. Meu pai parecia entender o que acontecia, mas ele não mais se importava. Não havia o que fazer.

Eu passei semanas indo e voltando pela floresta. Procurando por qualquer rastro que me levasse até ele. Nada. Nem ao menos um segundo bilhete havia na velha praça, da velha floresta.

Nessa última semana, eu já havia desistido de procurá-lo. A floresta já não era mais o meu abrigo. Eu lutava, agora, para esquecê-lo. Eu sabia que não seria fácil, mas não havia outra escolha.

Hoje, enquanto eu caminhava nos arredores da floresta, na claridade, onde minha espécie se hospedava, eu pude sentir o cheiro dele. Alastrando-se por todo o lado. No entanto, não era apenas o seu cheiro que eu podia sentir. Haviam outros misturados. Era mais de um demônio que rondava nosso lar.

Todos gritavam, alguns já batiam as asas para longe. Outros tentavam salvar os mais novos, ainda sem o dom de voar. Meu pai segurava meu braço.

- Sarah, nós precisamos sair daqui. São eles. - Ele murmurava incessantemente em meu ouvido.

Eu não tinha medo. Mesmo que meus sentidos me tivessem enganando, mesmo que não fosse o meu Fenriz quem estivesse se aproximando. Eu não tinha motivos para continuar viva, eu apenas não queria viver assim.

- Vá sem mim,pai. - Meus olhos continuavam fixos na floresta negra à nossa frente. Meu coração divido entre a claridade e a escuridão que separavam a nossa espécie da deles.

- Eu não posso deixar que você fique aqui, sozinha! - Senti meus ombros balançarem de um lado para o outro. Meu pai sacudia-me, na expectativa que eu mudasse de idéia, que eu acordasse para a vida. Não havia mais vida, eu queria dizer-lhe. Era difícil, porém, fazê-lo sofrer. Já bastava o desespero e a tristeza que ele via em mim, e isso eu não poderia evitar... [continua]


Por Michele Penteado.
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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Perdida


A chuva continua a cair lá fora. Os dias passaram um pouco mais rápido que o normal esta semana. Sinto-me sem fôlego, em uma corrida contra o tempo. Corrida na qual eu só tenho uma opção: chegar em primeiro lugar.
As palavras não ficam na minha mente, que apesar de vazia, parece não suportar mais nada. Não há explicações pra tais fatos. Eu apenas não sei o que falta.
Tento encontrar a concentração, mas de algum modo, ela sempre escapa das minhas mãos. Se ao menos o tempo jogasse a meu favor... Eu simplesmente não consigo entender como que, apesar de com tanta pressa, eu ainda nada consiga fazer.

Por Michele Penteado.
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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sarah IV


Eu conhecia o suficiente sobre anjos maus para reconhecer aquele nome: Fenriz, filho de Loki. Loki era um demônio qualquer aos olhos dos ainda mais poderosos, mas para nós ele era muito perigoso. No entanto, Fenriz, nas histórias que minha mãe contava, era um lobo grande e forte que perseguia o sol. Você sabe, nós somos como o sol para eles, ela me lembrava. O meu Fenriz, porém, não era um lobo. Ele era humano, ele tinha olhos azuis. E nada explicava o sentimento que eu sentia vir dele.
- Por onde você andou? Nós procuramos você por todo o lado. Chegamos a pensar que... - Meu pai estava atrás de mim, com a mão em meus ombros. Eu não queria fazê-lo sofrer ainda mais. Além de tudo o que minha mãe o fez passar quando o trocou por seu inimigo. Eu não poderia fazer o mesmo.
- Eu estou bem, pai. Apenas precisava ficar um pouco sozinha. - Desviei meu olhar do seu, antes que ele percebesse a mudança na minha alma.
- Você sabe que eu estarei ao seu lado quando precisar, não sabe, Sarah? - Ele segurou meu rosto, forçando-me a encará-lo.
- Eu sei, pai. Não há nada de errado. Com licença. - Não havia como enganá-lo. Ele conhecia esses gestos, esses olhares. Ele provavelmente sabia o que estava por vir.
Decidi voltar à velha praça, na esperança de encontrar Fenriz outra vez. Ele não estava lá, mas seu cheiro ainda estava no ar, misturado ao meu. Espere. Havia outro cheiro além do nosso.
Dei alguns passos, até alcançar o raio de sol que passava pelas árvores. Algo me chamou atenção, em cima do velho banco. Havia algo vermelho, contrastando com o resto da floresta, em razão do sol que o iluminava e da cor incomum aqui.
Uma rosa. E mais ao lado, dobrado em quatro partes, havia um pequeno papel. Você pode não compreender - confesso que eu também não entendo -, mas há algo que me prende a você. Não demorarei a voltar. Fenriz
Meu coração se encheu de esperança. Eu não necessitava de mais nada... [continua]

Por Michele Penteado.
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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sarah III


Durante dias ele não apareceu. No entanto, eu não precisava dormir, eu não precisava comer, não havia motivo para rever minha família. O único motivo para eu continuar em pé era ele. Era esperar por ele.
A ansiedade, porém, deu-me uma nova idéia. Eu poderia procurá-lo. Eu conhecia seu cheiro, não seria tão difícil localizá-lo. Não no estado em que eu me encontrava. Meus pensamentos giravam em torno dele, e mais nada poderia entrar na minha mente.
Antes que eu pudesse dar continuidade ao meu plano, seu cheiro estava por todo o lado. Dei alguns passos para trás, esperando que ele não notasse a minha presença.
Lá estava ele, vagando entre as árvores, a vinte passos de mim. Havia algo estranho na sua expressão... Seus olhos... Seus olhos eram azuis? Eu lembrava perfeitamente de cada detalhe no seu rosto, e eu tinha certeza de que seus olhos eram negros, como o de todos eles. Demônios não possuiam cor alguma. A menos que...
Seus olhos estavam fixos nos meus. Não havia para onde fugir, e eu também não queria. Meus pés moveram-se quase que instanteneamente na direção dele. Senti suas mãos tocarem as minhas, pela primeira vez. Seus lábios, porém, não foram de encontro a minha garganta. Eles estavam trêmulos, quase que acompanhando seus olhos, que oscilavam entre os meus e meus lábios. Não foi difícil escolher. Meus lábios tocaram levemente os seus, e um arrepio dominou todo o meu corpo, até a minha alma.
- Espere, eu não sei se isso é certo. - Ele interrompeu, desviando seu olhar.
- Mas seus olhos... Você não é um... Demônio. - Minha voz tremeu com a força da palavra.
- Meu pai era um deles, ele transformou minha mãe em cinzas. Eu possuo alguns de seus poderes e traços. Eu não sei o que aconteceu com meus olhos. Até três dias atrás, eles eram pretos como a noite. - Os pensamentos dele vagavam junto com seus olhos pelo céu escuro. Eu também não entendia o que estava acontecendo.
- Eu não entendo, como seus olhos podem mudar de uma hora para outra. Isso nunca ocorreu antes? - Toquei sua mão, anseando por seu olhar.
O vento soprou forte. Fazendo a copa das árvores balançar e um assobio agudo ser emitido pelos galhos em movimento. Eu conhecia o cheiro que acompanhava o vento.
- Eu preciso ir. Fuja daqui, ninguém pode te encontrar. - Apenas com um toque seu, eu já estava longe. Algumas árvores nos separavam.
- Eu quero vê-lo outra vez. Qual seu nome? - Eu murmurei por entre as árvores, tinha certeza que ele ouviria.
- Fenriz. Eu voltarei em dois dias. Agora fuja. - Ele correu para o leste da floresta. Seus pés não tocavam o chão. E alguns segundos depois, eu não pude mais vê-lo.
Obedeci suas ordens e corri o mais rápido que pude. Eu ainda não conseguia voar. E, depois de conhecê-lo como conheci, eu não tinha certeza de que algum dia conseguiria. Pude ouvir um uivo triste e desajeitado, antes de deixar as sombras da floresta para trás... [continua]

Por Michele Penteado.
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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Solidão


Sinto uma dor no peito, como se estivesse sufocada durante muito tempo. Como se estivesse no fundo do mar e tentasse respirar, mas nunca alcançasse a superfície.
A dor, normalmente, é leve. Hoje, porém, ela tomou conta de todo o meu corpo. Eu simplesmente não consigo mover um músculo sem lembrar dela.
Tentei fingir que era fácil, que conseguiria sozinha. Realmente, às vezes é, eu não menti completamente. No entanto, é difícil largar o vazio que - apesar de ser nada - preenche o meu peito. Eu não sei se conseguiria aguentar uma segunda perda. Às vezes me parece mais fácil seguir sem mudanças. Eu ainda acredito que um dia isso acabará, mas esse dia está demorando a chegar. Eu não penso que eu ainda resista por muito tempo.

Por Michele Penteado.
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domingo, 6 de setembro de 2009

Sarah II


Meu corpo desejava tocá-lo, mas eu sabia que não era o certo a fazer. De alguma maneira, meu coração ainda ouvia os murmúrios da minha mente.
- Eu não quero machucar você. - Ele sussurrou ao perceber a rigidez do meu corpo.
- Às vezes não é necessário querer. - Uma voz rouca e fraca saiu da minha garganta.
Ele afastou-se. Seus olhos refletiam meu rosto assustado. Ele concordava comigo. Ele sabia que não poderia se controlar se fossemos longe demais.
Minha mão estava estendida em sua direção, tentando tocá-lo. Procurando sua pele.
- Não vá, por favor. - Implorei aos seus pés. As lágrimas já estavam rolando pelo meu rosto.
- Você tem razão. Eu preciso ir. - Foram as últimas palavras que eu o ouvi dizer, antes que ele desaparecesse feito cinzas.
Agora, eu estava na mesma velha praça. Escondida entre as árvores, ansiando pelo momento em que ele viria. Eu esperaria o tempo que fosse necessário para vê-lo outra vez. [continua]

Por Michele Penteado.
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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sarah


Eu tive certeza do que ele era desde a primeira vez que o vi. Nossa espécie poderia reconhecer o inimigo a quilômetros de distância. Apenas pelo arrepio que dominava nosso corpo ao perceber que um estava por perto.
É perigoso estar perto de um deles, minha mãe me avisara, desde que atingi a maioridade, e descobri meu caminho. Anjos não podem nem ao menos serem tocados por eles, Sarah. Nós viraríamos cinzas se um demônio desejasse isso.
Ele, entretanto, era diferente. Apesar da pele branca, dos olhos negros e da expressão vazia. Ele era diferente. Não havia como recusar a chama que ardia em seus olhos quando encontraram os meus. Eu não tinha mais escolha. Eu estava tomada pelo fogo, pela escuridão.
Demônios são traiçoeiros, minha mãe alertava. Mas há muito que eu não ouvia mais seus conselhos. Ela havia se iludido com um anjo do mal, e, depois do ocorrido, não demorou muito para que virasse cinzas.
Porém, eu não tinha ouvidos para mais nada. O toque de sua pele na minha era como um choque elétrico. O arrepio dos seus lábios no meu pescoço era como estar a menos de 0°C e sentir seu corpo ferver. Não havia como negar, eu estava iludida. No entanto, ele não parecia estar interessado em uma destruição. Ele parecia realmente interessado em sentimentos.
Era noite e fazia frio. Eu estava sentada em um banco, em uma praça abandonada. Eu sabia que ele estaria ali. Eu aguardava, ansiosa por sua chegada. Foi quando o ar levantou meus cabelos, e eu pude sentir seu cheiro. Forte, amargo, triste. Ele estava ao meu lado.
Meus músculos protestavam contra o toque de seus lábios. Meu corpo estava ciente do perigo de permanecer ao lado dele. Meu coração, porém, estava surdo. [continua]

Por Michele Penteado.
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Ela estava sozinha, sentada em um banco verde, devido ao grande tempo de exposição à umidade da floresta ao redor.
Ela passava as mãos pelos longos cabelos dourados. O nervosismo era visível. Seus olhos passavam de um lado a outro pelas árvores ao redor da antiga praça em que ela se encontrava.
Uma rajada de vento passou por ela. Fazendo seus cabelos voarem. Por um momento, seus músculos relaxaram e seus olhos se fecharam.
Foi quando ele apareceu. Seus pés pareciam nem tocar o chão. O corpo da garota enjireceu novamente. Ele já estava ao seu lado, acariciando seu pescoço.
O contraste entre eles era grande. Ela com seus cabelos dourados, sua pele rosada e os olhos como mel. Ele com o cabelo preto, curto e desajeitado. Seus olhos eram negros e a pele branca como o luar.
Mas ainda assim, eles formavam um par perfeito. Como se fossem criados para ficar juntos.
Seus corpos dançavam, em sincronia. Embalados por uma melodia inaudível a meros ouvidos normais. Eles eram embalados pela melodia do amor... [continua]

Por Michele Penteado.
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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Enquanto o sol não vem

Acordo assustada. Minhas mãos estão espalmadas sobre o lençol. Tateando-o, à procura do seu corpo. Meu coração se espreme ao lembrar que você não mais estará ao meu lado.
O dia está frio, assim como eu. Você costumava aquecar-me sempre que necessário.
Olho pela janela. O céu está escuro. É sempre noite, agora. Entretanto, não há estrelas, nem a lua que iluminava seu rosto nas nossas melhores noites.
O céu parece estar triste, da mesma forma que eu. Há semanas que não amanhece. Mas eu continuo a esperar, pacientemente, enquanto o sol não vem.

Por Michele Penteado.
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quarta-feira, 2 de setembro de 2009


"Seus olhos cor de mel foram a primeira coisa que os meus encontraram ao despertar.
Não havia mais nada na minha vida, apenas ele. Eu não precisaria de mais nada enquanto ele permanecesse ao meu lado.
Felicidade não descrevia nem um terço do que eu sentia quando estava junto a ele.
Seus olhos se fecharam. Seu rosto foi se aproximando lentamente do meu.
Meus pensamentos se misturaram aos batimentos confusos do meu coração. Minha respiração era acelerada. E durante alguns segundos, eu não sabia onde estava.
Foi então que seus lábios tocaram os meus. E eu pude sentir que seu coração também batia acelerado. Que sua respiração também era ofegante.
Nossos corpos tornaram-se um só. Eu podia sentir o calor da sua pele, mesmo através das roupas que nos separavam.
Eu tive certeza que era com ele que eu queria estar pelo resto da minha vida."

Por Michele Penteado. (trecho de Catty Girl - the outset)
© direitos reservados a autora

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Fim


Queria apenas dizer que o amo. Que sempre estarei ao seu lado, mas o som não sai da minha garganta. Eu continuo engasgada com soluços, as palavras não saem conforme o planejado. Meus movimentos ficam mais lentos. Eu já não ouço mais a sua macia e delicada voz. A escuridão está se aproximando, gritando meu nome. Há outro caminho a seguir - eu tento avisá-lo - Minha missão já foi cumprida. Ele continua sem me ouvir. Minha visão não existe mais. Apenas posso sentir seus láibios nos meus. Eu te amo, foi o último pensamento que eu pude ter. A escuridão tomou conta de tudo.

Por Michele Penteado.
© direitos reservados a autora