sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sarah


Eu tive certeza do que ele era desde a primeira vez que o vi. Nossa espécie poderia reconhecer o inimigo a quilômetros de distância. Apenas pelo arrepio que dominava nosso corpo ao perceber que um estava por perto.
É perigoso estar perto de um deles, minha mãe me avisara, desde que atingi a maioridade, e descobri meu caminho. Anjos não podem nem ao menos serem tocados por eles, Sarah. Nós viraríamos cinzas se um demônio desejasse isso.
Ele, entretanto, era diferente. Apesar da pele branca, dos olhos negros e da expressão vazia. Ele era diferente. Não havia como recusar a chama que ardia em seus olhos quando encontraram os meus. Eu não tinha mais escolha. Eu estava tomada pelo fogo, pela escuridão.
Demônios são traiçoeiros, minha mãe alertava. Mas há muito que eu não ouvia mais seus conselhos. Ela havia se iludido com um anjo do mal, e, depois do ocorrido, não demorou muito para que virasse cinzas.
Porém, eu não tinha ouvidos para mais nada. O toque de sua pele na minha era como um choque elétrico. O arrepio dos seus lábios no meu pescoço era como estar a menos de 0°C e sentir seu corpo ferver. Não havia como negar, eu estava iludida. No entanto, ele não parecia estar interessado em uma destruição. Ele parecia realmente interessado em sentimentos.
Era noite e fazia frio. Eu estava sentada em um banco, em uma praça abandonada. Eu sabia que ele estaria ali. Eu aguardava, ansiosa por sua chegada. Foi quando o ar levantou meus cabelos, e eu pude sentir seu cheiro. Forte, amargo, triste. Ele estava ao meu lado.
Meus músculos protestavam contra o toque de seus lábios. Meu corpo estava ciente do perigo de permanecer ao lado dele. Meu coração, porém, estava surdo. [continua]

Por Michele Penteado.
© direitos reservados a autora

2 comentários:

Carol :) disse...

Tá, eu acho que eu entrei em transe lendo essa parte #) uaheuaueaea. muito linda, a história ;* beijooos!

Carol :) disse...

ps: queeero o resto :D

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