terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sarah III


Durante dias ele não apareceu. No entanto, eu não precisava dormir, eu não precisava comer, não havia motivo para rever minha família. O único motivo para eu continuar em pé era ele. Era esperar por ele.
A ansiedade, porém, deu-me uma nova idéia. Eu poderia procurá-lo. Eu conhecia seu cheiro, não seria tão difícil localizá-lo. Não no estado em que eu me encontrava. Meus pensamentos giravam em torno dele, e mais nada poderia entrar na minha mente.
Antes que eu pudesse dar continuidade ao meu plano, seu cheiro estava por todo o lado. Dei alguns passos para trás, esperando que ele não notasse a minha presença.
Lá estava ele, vagando entre as árvores, a vinte passos de mim. Havia algo estranho na sua expressão... Seus olhos... Seus olhos eram azuis? Eu lembrava perfeitamente de cada detalhe no seu rosto, e eu tinha certeza de que seus olhos eram negros, como o de todos eles. Demônios não possuiam cor alguma. A menos que...
Seus olhos estavam fixos nos meus. Não havia para onde fugir, e eu também não queria. Meus pés moveram-se quase que instanteneamente na direção dele. Senti suas mãos tocarem as minhas, pela primeira vez. Seus lábios, porém, não foram de encontro a minha garganta. Eles estavam trêmulos, quase que acompanhando seus olhos, que oscilavam entre os meus e meus lábios. Não foi difícil escolher. Meus lábios tocaram levemente os seus, e um arrepio dominou todo o meu corpo, até a minha alma.
- Espere, eu não sei se isso é certo. - Ele interrompeu, desviando seu olhar.
- Mas seus olhos... Você não é um... Demônio. - Minha voz tremeu com a força da palavra.
- Meu pai era um deles, ele transformou minha mãe em cinzas. Eu possuo alguns de seus poderes e traços. Eu não sei o que aconteceu com meus olhos. Até três dias atrás, eles eram pretos como a noite. - Os pensamentos dele vagavam junto com seus olhos pelo céu escuro. Eu também não entendia o que estava acontecendo.
- Eu não entendo, como seus olhos podem mudar de uma hora para outra. Isso nunca ocorreu antes? - Toquei sua mão, anseando por seu olhar.
O vento soprou forte. Fazendo a copa das árvores balançar e um assobio agudo ser emitido pelos galhos em movimento. Eu conhecia o cheiro que acompanhava o vento.
- Eu preciso ir. Fuja daqui, ninguém pode te encontrar. - Apenas com um toque seu, eu já estava longe. Algumas árvores nos separavam.
- Eu quero vê-lo outra vez. Qual seu nome? - Eu murmurei por entre as árvores, tinha certeza que ele ouviria.
- Fenriz. Eu voltarei em dois dias. Agora fuja. - Ele correu para o leste da floresta. Seus pés não tocavam o chão. E alguns segundos depois, eu não pude mais vê-lo.
Obedeci suas ordens e corri o mais rápido que pude. Eu ainda não conseguia voar. E, depois de conhecê-lo como conheci, eu não tinha certeza de que algum dia conseguiria. Pude ouvir um uivo triste e desajeitado, antes de deixar as sombras da floresta para trás... [continua]

Por Michele Penteado.
© direitos reservados a autora

3 comentários:

Carol :) disse...

amor proibido.. amo essas histórias !
:*

Michele disse...

São tão fascinantes, não é?! Espero que você goste do livro (Catty Girl), estou próxima dos últimos capítulos.

Beeeeijos!

Carol :) disse...

Juraaa :O
aaaaa , to muito anciosa!

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